quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Feridas

Uma ferida é uma interrupção na continuidade de um tecido corpóreo. Tal interrupção pode ser provocada por algum trauma, ou ainda ser desencadeada por uma afecção que acione as defesas do organismo.

Ser real com as minhas feridas. Dar-lhes a dignidade que merecem. Era esse o meu sonho. Descobri-las, invadi-las, desconstruí-las. Vivê-las sem espetadores. Aliás... Com espetadores e com a liberdade que merecem. Com a liberdade que mereço. Com o que eu quiser, com o que elas precisarem. Ser real com as minhas feridas. Só quero poder ser real com as minhas feridas. Descobri-las, invadi-las, desconstruí-las. Conhecê-las. Fazer amor com elas. Fazer amor com as minhas feridas. Levá-las ao olho do furacão para poder trazê-las de volta ao pôr-do-sol, à beleza da Lua e do céu estrelado. Aceitar as minhas feridas. Ouvi-las, percebê-las, senti-las. Dar-lhes a casa que merecem, já que foi escolha delas viverem em mim. Deixem-me ser real com as minhas feridas. É esse o meu sonho. Uma conversa franca com as minhas feridas. As minhas feridas: as minhas feridas. Genuínas, ativas, decididas. Queria eu ser tão real com elas como são elas comigo.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Tempestade

Disse-me "tchau" tratando-me pelo nome e nunca mais voltou. Foi um beijo, um único beijo, despediu-se como se nos fôssemos ver no dia seguinte e nunca mais voltou. Talvez deliberadamente, talvez porque se distraiu, talvez porque morreu... Não sei... Simplesmente, porque ela nunca mais voltou. E, não sabendo para onde foi, lá a segui à minha maneira. Não sabendo se morreu, morri um pouco com ela.

Sempre foi um ser peculiar. Com a passagem dos anos, do tempo, só aprendeu a abraçar essa sua parte inevitável. Talvez por ser inevitável, fosse tão mortífera. E talvez por ser tão tóxica, a tenha ela abraçado. Porque não podia ser de outra forma. E era um tóxico tão doce, tão ingenuamente marcado pela doçura, que... Talvez fosse por isso que se tornava impossível não morrer. 

De todas as vezes que a encontrei, senti aquilo que sentem as pessoas perdidamente apaixonadas. Perdido... E tão preenchido... Simultaneamente. Era como se, perfeitamente consciente, escolhesse nadar para fora de pé. Ir para alto mar, ciente da tempestade alheia à minha força, alheia à minha vontade, mais uma vez impossível - sempre impossível - de controlar. Ela era uma tempestade. E se vive, ainda o é. 

sábado, 23 de setembro de 2017

Não

Perguntei-lhe se sabia o que estava a fazer. Ela disse que não. Nunca soube. Acabava sempre perdida num espaço qualquer, espaço sem espaço com espaço qualquer algures físico, emotivo, aéreo... Espacial. Espaço espacial. Ela disse que não, que não sabia. Não sabia o que queria ou o que devia querer. O que devia fazer. Ou o que esperar sequer. Cada dia algo novo, alguém novo, chegadas e partidas inesperadas mas necessárias, distâncias proximidades barreiras erguidas barreiras quebradas barreiras atrás de barreiras liberdades vividas liberdades sentidas liberdades alcançadas e eu perguntei-lhe se ela sabia o que estava a fazer. E ela disse que não. Que não sabia, nunca soube. E no fundo sempre soube, sem saber, sabendo no fundo. E então, voltou à carga. À carga da emoção sensação toque fuga, toca e foge, foge e toca, toca sempre... Toca sempre de mais, nunca de menos. Arriscando sem arriscar a fundo. Nesse fundo sem fundo sem fim nem mundo concreto - abstrato, sempre abstrato, tão concreto na sua abstração - tão concreto na mente dela... Se ao menos não fosse a mente dela aérea, abstrata também...

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Música. Família. Amor. Amizade. Escrita. A procura por mim mesma. Vida. E é a isto que se resume. Sintam-se à vontade por aqui and enjoy.

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