terça-feira, 3 de outubro de 2017

Matiz

Olho fixamente a parede branca à minha frente. Parece que também ela está a olhar para mim. Será que se eu lhe falar, ela responde? Hey. Hey. Hey hey hey hey hey. Heyyyyyy! Na minha cabeça, atiro-lhe baldes e baldes de tinta vermelha, preta e luto conta ela, envolvo-me nela. Mas ela nunca se envolve em mim. Olho fixamente a parede branca à minha frente. Gostava que ela me olhasse também. Mas ela não olha. Não olha, não olha, não olha! Olha para mim. Olha para mim. Olha para mim. Olha para mim, olha para mim! Olha para mim! Nunca olha. As lágrimas já se me começam a formar nos olhos. Há muito tempo que já vivem na alma. Começam a aparecer as pessoas. As pessoas à minha volta. Não conheço. Não as conheço. Não conheço estas pessoas. Não conheço estas pessoas. Não conheço estas pessoas! Agarro a tinta. Agarro-me à tinta. Protejo-me na tinta, com a tinta, da tinta. Protejo-me da tinta. A minha tinta. A minha tinta preta vermelha sem cor. Tinto. Tudo tinto, agora está tudo tinto. A parede. As pessoas. Agora está tudo tinto. Agora somos parte da mesma matiz.

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