No meio do caos, who do you talk to? Quem te traz de volta um pouco da calmaria? And who makes you stay there? Todos sabemos que a vida não é uma linha reta. Se tentasse enquadrar a minha vida num gráfico, certamente seria impossível. E seria com certeza um gráfico dinâmico em que o passado não estaria representado sempre com a mesma intensidade. É interessante a questão das memórias. Pensar que voltar atrás no tempo é fisicamente impossível e que, mesmo quando voltas atrás através das memórias, o que vem nunca será aquilo que já foi. Talvez tenhas a sorte de voltar a reviver um pouco das sensações que sentiste, but it will never be the same. It couldn’t be.
No meio do caos, no meio da calmaria, who do you talk to? E no entretanto? Talvez essa seja a questão mais importante. Quando tudo parece o mesmo de sempre - estagnado - e o dia a dia não é mais do que isso - dia a dia - who makes you feel something? Será que ainda reconhecemos a importância de sentir alguma coisa mais profunda, que não seja uma reação ao que nos rodeia mas uma… ação premeditada? Quando foi a última vez que olhaste para ti? E te permitiste sentir alguma coisa além do instinto de sobrevivência? Do we even have time for that anymore?
Creio que é impossível saber a posição que ocupamos no universo. Seja a que nível for. Seja no universo de que os astrónomos falam, seja no universo que existe em cada pessoa. Eu pelo menos sinto que existe um universo em mim. E para mim, cada pessoa é um universo parte de um universo ainda maior.
É difícil entender que posição ocupamos no universo do outro, ainda que seja menos difícil perceber que posição o outro ocupa em nós. Não é estranho? Aceitarmos que o outro se entranha em nós mas ser quase impensável acreditar que é possível sermos entranhados no universo de outro alguém.
Se nada se perde e tudo se transforma, para onde vai tudo aquilo que fica por dizer? Ou por fazer? Será possível que a posição do outro em nós durante uma vida seja o suficiente para manter vivo tudo o que se transforma e não se perde, com base na falta - nascida de uma presença tão valiosa - que esse mesmo outro nos faz? Será um legado? Será por isso que estamos todos ligados? Será disso que o universo é feito no final de contas?
Creio que é impossível saber a posição que ocupamos no universo. Mas consigo reconhecer, sentir e viver a posição e o impacto que várias outras pessoas ocupam em mim. Que vários outros universos ocupam em mim. E sou grata por isso. Independentemente dos moralismos e das diferenças. Neste universo que existe em mim, no universo que eu sou, aceito que cada ganho e cada perda, cada chegada e cada ida, é no final de contas, transformação.
Escrevia-me. Escrevia-me imenso. Mesmo quando não me lia, escrevia. Quando não me conseguia ler, escrevia. Hoje não me escrevo tanto. Mas quando escrevo, acabo sempre por me ler de alguma forma. A cada passo, algo se desembrulha em mim como se de repente estivesse viva outra vez. E estou. Será que estou? Espero estar.
É que antes escrevia-me. Escrevia-me imenso. Mas o antes passa tão rápido e custa-me acompanhar. Por momentos, no dia-a-dia, custa-me acompanhar. No espaço e no tempo, custa-me acompanhar. Mas tento. E continuo. Pouco ou muito, continuo a tentar escrever-me. Talvez um dia me consiga ler também. Até lá... Escreverei.
Fogem-me as palavras mas não me foge o que sinto. Isso está sempre lá, sempre aqui, presente, nunca ausente: fico descontente com o descontentamento: mas ele não sai daqui. Fogem-me as palavras mas o que sinto fica, seja real ou irrealista: é bom que alguma cura exista: se existir que não tarde a chegar.
Porque tarde já é tarde desde ontem e ainda mais tarde será amanhã: nunca é tarde mas cá parece ser tarde e cada vez mais tarde: mas no fim, espero - na verdade a n s e i o - estará tudo bem.
De todas as fraquezas do mundo, nunca pensei que esta seria a minha. Tenho a força de todos os dias abrir os olhos e sobreviver ao obrigatório mas fujo de tudo o resto que poderia dar sabor à vida. Porque à vida não lhe reconheço o sabor. Não sei qual é. Não sei qual é o meu sabor. Mas sei que de todas as fraquezas do mundo, nunca pensei que esta seria a minha. Sei que tenho a força de todos os dias abrir os olhos e sobreviver ao obrigatório. Tenho instinto. Mas já não tenho o querer. Falta-me o querer. Quero o que tem de ser, porque mais não sei como fazer.
Para sentir, agarro-me ao que conheço. Ao que o passado me ensinou pela experiência. Muitas vezes preferia não sentir, não existir, nem que por um bocadinho. Mas não é assim que funciona a minha cabeça.
Nós não somos só mais uma face na multidão. Nós nunca seremos só mais uma face na multidão. Há sempre mais. Somos mais. Sempre mais. Um nome, uma história, uma alma, uma luz. Somos seres de pensamento, sentimento, decisão, ação. Podemos escolher viver. Podemos escolher sentir. Podemos escolher agir. Podemos escolher procurar saber e decidir ser quem nós temos todo o potencial para ser. Nós não somos só mais uma face na multidão. Jamais seremos só mais uma face na multidão. Somos mais. Há mais. Sempre mais.