Deleuze defendia que o verdadeiro charme capta-se na demência. Que todos nós somos meio dementes.
Tudo está escuro.
Na mente dela o vento sopra forte, solta-lhe o cabelo, força-a a fechar os olhos; mas ela não se sente obrigada. O cinzento nevoento do céu e do ar funde-se com o verde escuro daquele ambiente cru, despido de encantamentos artificiais. Anastasia senta-se no chão, põe as mãos à cabeça, auxilia o mundo que naquele momento, naquele preciso momento, apenas tem em si a tarefa de a despentear, desarrumar, descontrolar, enfurecer, fazê-la estremecer de, ah p’ra quê justificar.
Aquilo era tudo o que ela sempre quis.
Deixando-se levar, não sabe do tempo, do dia, do ano, do século. Nem quer saber. Para ela existe o que está ali, o que ela sente, toca, vive, experiencia com o coração que bate aceleradamente e a adrenalina que não a consome. Alimenta. Está sozinha mas nunca se sentiu tão acompanhada. Quem a conhecia melhor que ninguém não a conhecia o suficiente. Jamais. Sinais de satisfação, mais do que contentamento, êxtase; menos do que dor, desprezo; tanto quanto medo, coragem — criava-se a fusão.
Que a deixava no topo.
No topo da base de si.
No seu carpe diem obscuro. O auge.
Apogēu. Apógeios.